Não e como se eu me fosse matar já, aqui e agora. Nao é. E eu tenho a certeza de que nao era capaz. Mas há tanto tempo que esta infelicidade se anda a entranhar em todos os espaços livres do meu corpo. E a minha cabeça anda a mil, eu nunca descontraio, eu nunca paro de pensar... De cada vez que eu olho para o espelho um qualquer insulto salta dos meus lábios para aquele inocente reflexo. E já toda a gente tinha reparado no meu estado e, apesar de nao saber o que quero com esta onda de tristeza, sei que não era isso. Então parece que consegui encontrar maneira de sorrir sempre que estou acompanhada, e não custa assim tanto. E ao fim de contas é só isso que eles querem, que eu aparente estar alegre. Mas eu nao estou. E quanto mais entro pela noite, esta noite de lua cheia, 3 noites depois de completar 17 anos, mais sinto aflição. A minha cabeça ja não anda a mil. É pior que isso. A esta hora apetece me virar para alguém e contar tudo isto. Mas eu nao sei como. E, pensando bem, ninguem quer ouvir. Nem nas minhas histórias engraçadas as pessoas estão interessadas. Eu não sou interessante. Eu sou estranha, eu só queria ser diferente, não seguir o rebanho, marcar o meu proprio caminho. Neste momento, parece querer dizer prosseguir completamente sozinha. Mas o problema, é que na solidão há stress, há preocupações, há pensamentos maus e agressivos. Na solidão há pais que me querem ouvir contar histórias do meu dia de aulas. Bem, mãe, eu não tenho histórias. Estive 12 horas presa num edificio que eu odeio, a ser educada por adultos que são tão falsos quanto eu nestes dias e que escrevem "estava a espera de melhor" nas observações dos meus testes, os mesmos que eles me entregam com cara de desapontamento. Agora, mãe, nao só tenho de corresponder às tuas expectativas como às destes desconhecidos. A certa altura, no meio desse longo dia fui almoçar, e, cinco segundos depois de acabar estava na casa de banho a chamar nomes ao meu reflexo, outra vez. Deixa estar, mãe. Isto passa.
Já é tarde e eu sei que me vou arrepender, mas eu tentei. Eu rebolei e rebolei. Amanhã, ou ainda hoje, tenho de ir estudar. Tenho exames daqui a um mês, e espero que por essa altura já tudo tenha passado.
Maria maria maria o que se passa aí dentro?